Amor e ódio: minha relação com a bomba de leite

Paula Laffront

Amamentação | Antonio

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Como consultora de enxoval de bebê, o assunto amamentação e bomba de leite é diário. Converso com todas as mães sobre isso e 99% delas acabam optando por comprar uma bomba de leite elétrica, na esperança de ter um pouco de liberdade.

Sim, a bomba de leite te dá exatamente isso. Liberdade para ir e vir quando quiser ou precisar e ainda sim manter a amamentação. A 10 anos atrás, quando amamentei a Dani, eu usei bomba por muito pouco tempo e o meu atual “mommy-brain” não me permite lembrar com clareza como foi essa minha relação com a bomba, mas eu de fato não me lembro de ter sido algo difícil ou que eu odiasse tanto.

Mas a verdade é: EU ODEIO TIRAR LEITE! Não só porque é chato e parece uma enorme perda de tempo, mas também porque é difícil pra caceta! E depois desta minha experiência amamentando o Antonio e tirando leite para trabalhar, sinceramente eu me peguei pensando se de fato, todas estas minhas  tantas clientes, se deram bem com suas bombas e a rotina de tirar leite. Principalmente aquelas que iriam voltar ao trabalho de forma integral ao final da licença.

Deixa eu ser mais clara. Eu não tive licença maternidade. Em uma semana já estava trabalhando, mas até o Antonio completar 2 meses, eu consegui não me ausentar dele nenhum dia. Quando ele fez 2 meses, eu comecei a trabalhar longe dele por algumas horas, um ou dois dias por semana e então precisei começar a dar mamadeira. Como não queria introduzir fórmula (esperava eu que isso nunca acontecesse), oferecia a ele o leite que eu tirava, usando a minha bomba elétrica, a mesma que 99% das minhas clientes compram.

Até aí, tudo tranquilo… Só tinha passado pela fase chata de tirar leite que simplesmente você não consegue fazer nada e tem que ficar lá, com a bomba no seio, extraindo leite. Aproveitava os momentos que ele dormia (até essa idade, quase o tempo todo, rs) e lá ia eu sentar em frente a tv e ficar ouvindo aquele barulhinho repetitivo e me achando literalmente uma vaca desocupada. Boring total!

Como eu sabia que iria voltar a trabalhar, sempre que me sobrava um tempinho, mesmo antes de começar a trabalhar longe dele, eu ia tirando leite e assim fui construindo um bom estoque de leitinhos. Então era coisa de 15, 20 minutos com a bomba, sem muita pressão de ter que tirar por que ia precisar no dia seguinte.

Sendo assim, quando comecei a trabalhar, eu tinha um bom estoque e todos os dias tirava mais um pouquinho. Longe de mim, entre os dois e quatro meses de idade, ela costumava tomar de duas a quatro mamadeiras por semanas, de 4oz cada (não tenho ideia quantos mls é isso, mas o que importa que era pouco!).

Como eu trabalho atendendo clientes diretamente nas lojas ou na rua, eu não consigo tirar leite durante o trabalho. E quando estava em casa, só conseguia tirar leite lá pelas 10 ou 11 da noite. Naquela hora do dia que vc está mais cansada e por consequência produzindo menos leite.

Com quatro meses, comecei a trabalhar um pouco mais e Antonio começou a ir para o berçário e também a mamar mais. Eram, nessa época, 3 mamadeiras de 5oz cada por dia. Se eu trabalhasse dois dias por semana, ele tomava 30 oz por semana e as vezes, eu precisava de um terceiro dia e a necessidade dele chegava a 45oz por semana.

Agora façam a conta…. Devido ao meu estilo de vida e tipo de trabalho, eu só conseguia tirar leite uma vez por dia. E, como uma bomba de leite é menos eficaz que um bebê sugando, tirava apenas 4oz por dia. Depois de sofrer muito! Depois de ficar 40 minutos grudada na bomba, tentando todo o tipo de relaxamento, visualização de bebês e todas as técnicas possíveis que pesquisei para conseguir tirar mais leite. Eu tirava no máximo 28oz por semana e Antonio precisava de 45oz.

Conclusão que me desesperou: Eu não dou conta de tirar leite! Não dá! É humanamente impossível, da forma como eu fazia, manter ele apenas no leite materno e trabalhar três dias por semana (apenas).

Pesquisei de tudo, conversei com outras mães, li mil relatos e blogs (americanos, poque não achei nenhuma brasileira falando disso. Parece que a mãe brasileira que se dedica à amamentação exclusiva e prolongada são apenas as mães que não trabalham, de verdade!). E vi que para ter sucesso, estas mães viram a louca da bomba. Tiram leite em todo e qualquer lugar. No trabalho é o mais comum. Pelo que entendi é super normal aqui você parar o trabalho por 30 minutos a cada 3 horas para extrair leite e imagino que esta seja a chave do sucesso para conciliar amamentação, extração de leite e trabalho (era isso o que fazia com a Dani aparentemente). Também vi mães que tem vários tipos de bombas… Uma para cada situação. Vi mães que tiram leite no trânsito enquanto dirigem (eu tentei esse) e outras que acordam de madrugada, quando temos um pico de produção de leite (também tentei esse). Outras mães tiravam leite todas as vezes que amamentavam, logo depois do bebê (esse nem consegui tentar, não tinha com quem deixar o Antonio para fazer isso) e outras ainda mantinham o bebê num seio e a bomba no outro (tentei, mas não tive coordenação para tal).

Quanto mais eu lia, mais achava isto tudo insano. Amamentar não é fácil. Voltar ao trabalho também não. Mas voltar ao trabalho amamentando estava me parecendo impossível. Ou eu virava a louca da bomba ou não teria outro jeito. E eu tentei.

Como disse, tentei tirar no carro, tentei tirar enquanto Antonio mamava, mantive as minhas tiradas mais bem sucedidas as 11 da noite e passei a acordar as 2 da manhã para tirar mais um pouco (e as 4hs para amamentar o Antonio direto na fonte). E fui juntando gotinha por gotinha de leite para deixar as mamadeiras do menino. Literalmente! Pois, com todo este stress e sofrimento para tirar leite, parece que saía cada vez menos. E Antonio, em contra partida mamava cada vez mais. E eu prestes a jogar tudo para o alto, mandar tudo e todos que me cercavam pra pqp e parar de trabalhar. A cada véspera do dia que eu tinha que trabalhar, olhar aquele freezer vazio me dava pânico. Deixar ele com as mamadeiras contadas no berçário, me dava mais pânico ainda. Se o meu pneu furasse eu estava fu#iD% e o menino não ia ter o que comer, poi ele ficava apenas com as mamadeiras para aquele X de horas programadas, e nem um minuto a mais.

Fiquei nessas por um mês e meio até que liguei para a pediatra dele pois estava no limite e precisava de uma formula mágica que me fizesse jorrar leite das tetas a qualquer sugadinha da bomba, rs. Eis que ela veio com a solução, que nem havia passado pela minha cabeça e me deixou em choque.

“Paula, começa a introduzir fórmula para ele. Ele já tem quase 6 meses e serão só 4 mamadeiras por semana ou menos. Todas as outras vezes, você mantém o peito. Ele já está comendo sólidos… Não vai ser nada demais, não vai atrapalhar a amamentação e você ainda sim, pode continuar tirando leite e dá para ele tudo o que conseguir. O que não conseguir, complementa! Você pode inclusive, na mesma mamadeira misturar a formula com o leite materno.”

Eu desliguei o telefone em choque.

Um misto de “eu não quero dar formula nem a pau” e “como não pensei nisso antes?”. Liguei para a minha irmã, para as amigas, conversei com o marido e digeri o assunto.

A cada conversa a ideia me parecia mais razoável e decidi tentar.

Antonio odiou a formula. Tentei outra, e outra e outra. E em duas semanas não estávamos tendo sucesso e ele se recusava a tomar qualquer fórmula. A pediatra disse para deixar ele com fome, afinal a maioria dos bebês nem tem outra opção senão formula… A professora do berçário também me disse o mesmo e acrescentou: “Não traz mais o seu leite, talvez isso o esteja confundindo. Deixa o leite materno só para o peito e a mamadeira só para a formula.”

Pensei em parar de trabalhar novamente. Odiei meu marido e minha mãe que são os maiores levantadores da bandeira “a Paula tem que trabalhar”. Odiei não ter condições financeiras para de fato mandar tudo pro espaço. Odiei  mais ainda quando por 5 minutos pensei que sim, eu tenho condições financeiras para parar de trabalhar, é só mudar o meu estilo de vida e cortar gastos.

Poxa, quando eu me convenço de que dar formula não é o fim do mundo e fico em paz com esta decisão me aparece mais um problema? É justo isso?

Não, não é… Ser mãe é foda, todas sabemos disso.

Minha decisão já estava tomada e meio que estava sem outra opção que não fosse jogar tudo pro alto e começar novamente…

Respirei fundo e na semana seguinte levei para o berçário apenas duas mamadeiras de fórmula na lancheira (e uma terceira caso o pneu furasse, rs).

Em dois dias Antonio estava tomando toda a mamadeira lindamente e arrotando feliz com cara de “milk-drunk” no final.

E eu, livre da bomba.

E assim seguimos até hoje. Quando está comigo é só peito. Quando ele está no berçário é mamadeira com formula e comidinhas novas a cada dia. E seguimos bem assim.

Sem bombas e firme e forte na amamentação, que da forma como caminha vai durar ainda por mais alguns anos como eu desejo. Mesmo com algumas mamadeiras no caminho, que na verdade só estão ajudando.

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