Este ano não tem homenagem para o dia das mães

Paula Laffront

Amamentação

Todo ano, em toda data “importante” nós recebemos das empresas várias homenagens né? Aí quando o pessoal aqui da empresa me perguntou o que eu ia fazer de homenagem de dia das mães eu, como mãe, me senti mal. Eu não gosto de receber estas homenagens. Aliás me sinto bem ofendida com elas várias vezes.

Afinal, estas homenagens de empresa são puras ações de marketing…fazem campanhas lindas, com músicas melosas, tentam traduzir numa linguagem publicitária o que é ser mãe (e devo confessar que às vezes eles até conseguem) mas no fundo no fundo sabemos que só querem o nosso dinheiro.

E o que é ser mãe de fato? Sim, tudo aquilo lindo que vemos nestas campanhas publicitárias é ser mãe, mas infelizmente/felizmente não é só isso. Além de toda esta parte de comercial de margarina a maternidade está cheia de lutas diárias e de pequenas batalhas, de desafios, frustrações e complicações que sinceramente poderiam ser evitadas se a nossa sociedade ajudasse um pouco. Existe um provérbio africano que diz que é preciso de toda a aldeia para educar uma criança e eu realmente acredito nisso e vivo na pele várias situações onde eu educo de um lado e vem a aldeia e deseduca do outro.

Um exemplo simples: Eu não deixo minha filha de 10 anos usar maquiagem, salto ou roupas à la “piriguete”. Mas quase que 99% das amigas dela usam e isso não é de hoje, é desde que ela tem uns 3 anos, pelo menos. Aí lá vou eu, com todo um discurso cheio de fundamentos explicar para a menina do porquê desta minha decisão. E ela conclui todo o meu discurso com um: “Mas mãe, todas as minhas amigas usam….”. Também vem a tia, a cunhada e a vizinha e me dizem (NA FRENTE DELAAAAA): “Mas Paula, um brilhosinho na boca não faz mal pra ninguém!” E por aí vai…. Independente se você é contra ou não de um brilhosinho na boca, saca só como é difícil nos tempos de hoje educar! Nos tempos onde as crianças são bombardeadas com mídias e tudo o que é coisa vendida por aí tem algum personagem licenciado (para vender ainda mais), muitas mães acham super normal todo mundo querer tudo da princesa da Disney do momento (gasp gasp pra não falar Frozen).

Enfim…. o negócio tá difícil. Nossa sociedade, inclusive outras mulheres e mães estão tão envoltas num sistema machista, consumista e vários outros “istas” que nem percebem. Aí quando eu digo que não vou fazer homenagem de dia das mães porque sou contra isso, sou tachada de insensível! Sério! “Mas Paula…. as mães gostam de serem homenageadas”.

Ok, é legal ganhar flores, é legal ganhar presentes, ter um dia especial e blá blá blá. Mas de que adianta ganhar uma rosa do restaurante se este mesmo restaurante prefere contratar mais homens do que mulheres por que mulheres engravidam e eles têm que arcar com a licença-maternidade?

Do que adianta um café da manhã super bacanão na cama, trazido pelo marido, se no dia a dia é você que está sozinha na luta diária pelos cuidados da criança, pois o marido super bacanão que adora passar tempo com os filhos e é tido como um ótimo pai. E acha que trocar fralda é uma ajuda? AJUDA? Como você pode estar ajudando se o filho é seu? É como dizer que o vendedor de carro ajudou bastante na venda do carro! Vender o carro é obrigação dele, senhor! Assim como trocar as fraldas do filho. Se você é pai e troca até 50% das fraldas do seu filho por dia, não se vanglorie por isso, você faz mais que a esmagadora maioria dos homens sim, mas não está fazendo mais do que a sua obrigação. Se trocar 51% sim, pode se gabar, mas até 50% você está fazendo apenas a sua parte. Este exemplo é bem literal e não precisa vir com desculpas ou argumentações que você não troca a fralda, mas faz isso, isso e aquilo. Só quero tentar exemplificar aqui que não existe ajuda na criação dos filhos. Existe participação integral. Existe divisão justa de tarefas. Existe compreensão.

E a idéia de UM dia das mães também me soa irritante. Afinal ser mãe é algo integral, que lhe toma a alma por completo, que arrebata toda a sua vida e te transforma por completo. Seria preciso homenagens sinceras todos os dias para que elas estivessem à altura de toda a instituição mãe.

É por essas e por outras que eu não vou fazer nenhuma homenagem de dia das mães e resolvi fazer um manifesto. Ou seja, reunir aqui e espalhar pelas mídias sociais um pouquinho desse pensamento e dizer o que eu quero de dia das mães. Você pode não concordar com 100% da minha lista, mas provavelmente concorda com alguns pontos. Talvez você tenha até mais reivindicações do que eu (e adoraria ouví-las). Enfim… Eu poderia estar fazendo um videozinho lindo e te chamando de mãezinha, mas to aqui reclamando, to aqui reivindicando e fazendo a minha parte. Concorda? Lindo, compartilhe! Não concorda? Lindo também…. (mas não me venha com mimimi). Tem algo mais a dizer? Vamos embora porque essa luta é dura e vamos colocar a cara a tapa e a boca no trombone. Porque sinceramente estou de saco cheio de ouvir que pais ajudam por aí e sobre o vídeo lindo que a empresa X fez e de todos os emails marketing que recebi e vou receber. Ah… e mais ainda, (acho que essa ganha) de ver gente e empresas por aí chamando mães de mãezinha ou gravidinha. Mãezinha é a mãe!

Manifesto mãezinha é  a mãe

#1. Não queremos flores, queremos respeito. Com as mulheres, com as crianças, com a mãe que trabalha ou com a mãe que fica em casa.

#2. Não queremos um pai que ajuda. Queremos um pai que faça a sua parte.

#3. Não me chame de mãezinha. Esse diminutivo não é fofo é submisso. Tratar a mãe como uma retardada, infantil, frágil e desprotegida não é legal. Alguém que tem o poder de gerar e parir não tem nada de “inha”.

#4. Chega desta guerra de mães. Ninguém é mais ou menos mãe porque faz algo diferente de você.

#5. Não me fale como tenho que parir, não me venha com mitos de cordão do pescoço e argumentos infundados dizendo que é para o bem da criança. Dê a informação correta, evidências científicas e deixe a mãe escolher como quer trazer o filho ao mundo. E respeite esta decisão, mesmo que ela não seja a mais conveniente para todos.

#6. Mãe em tempo integral X mãe que trabalha. Sério mesmo? Eu não conheço mãe em meio período. Trabalhar fora ou não, não é medida para mãe. Apenas parem com estas comparações.

#7. Que tal começarmos a falar em igualdade de licenças? Países mais desenvolvidos, pais e mães dividem como desejam, e até meio a meio (pasmem) a licença-maternidade. Direitos iguais, lembram?

#8. Empresários do meu Brasil, não mande email-marketing, trate as mães da sua empresa com respeito. Pense que elas precisam talvez de intervalos para tirar leite, de uma creche ou do pai da criança por mais do que 5 dias.

#9. Respeitem o puerpério! As primeiras semanas pós-parto podem ser difíceis e complicadas. Parem de retratá-las como um conto de fadas e vamos dar mais informação de qualidade sobre esta fase onde a mãe precisa de mais apoio e compreensão do que nunca.

#10. Conselhos, dicas e pitacos. Apenas parem! Uma mãe não é uma urna aberta à sugestões.

 

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