Enquanto Antonio não vem #9 O Parto

Paula Laffront

Antonio

f4850f9f01a682de82ab5a56218bc930

Ai ai ai ai… Está chegando a hora! Agora com 30 semanas preciso fazer o meu plano de parto. Já fiz ele lá no comecinho, mas agora preciso rever tudo e fazer com calma e de verdade, porque até então era apenas um rascunho.

O Plano de parto é uma coisa desconhecida da maioria das brasileiras. Eu mesma só fui tomar conhecimento dele ao engravidar aqui na gringa. E devo confessar que em um primeiro momento, ao ver todas aquelas perguntas para mim pensei: “Por que raios preciso saber disso tudo?” “Não são informações e decisões importantes demais para serem tomadas por um leigo?” “Meu médico não é a pessoa que deveria decidir tudo isso?” “Como raios eu vou saber se é melhor eu ter alguém mandando eu empurrar ou se é melhor eu mesma decidir quando empurrar?”.

Pensamentos claros de uma brasileira envolvida pelo sistema de parto brasileiro, tão, tão diferente do que acontece no resto do mundo, principalmente nos países de primeiro mundo. Aprendi uma coisa (uma não, várias, muito mais do que imaginava minha vã filosofia): No Brasil, o médico é o grande protagonista do parto e a mãe uma mera leiga que carrega o bebê e deixa tudo nas mãos dos médicos. Seja no sistema público, no privado, com um médico excelente ou com um médico meia-boca. Quase que endeusamos os médicos no Brasil e o que eles falam é lei. O máximo que fazemos é gostar ou não do médico. E se gostamos, confiamos e jogamos tudo nas mãos dele. Se é o nosso G.O da vida inteira então, entregamos tudo de olhos fechados.

Foi assim na minha primeira gravidez, há 10 anos, morando no Brasil. Engravidei e fui ao mesmo G.O. que havia ido minha vida inteira. Meus questionamentos para ele eram bem ralos, do tipo: “Vai doer?”ou “O que eu uso para evitar estrias?”,  “Posso fazer isso ou aquilo?”. Enfim, nada questionando os métodos dele, os exames a serem feitos e muito menos o parto. Quem era eu para decidir alguma coisa né? Para minha felicidade, hoje, com muito mais informação nas costas, muito mais mesmo, posso olhar para trás e não ter tanto arrependimento assim da minha ignorância. O meu G.O brasileiro, por uma exceção quase divina, não era um cesarista e não acabei minha primeira gestação com uma cesária agendada e com mentiras da parte dele. Daniela nasceu de parto normal, hospitalar e para o choque de muitos com algumas circulares de cordão no pescoço. Meu G.O. era um médico das antigas, daqueles que tem como primeira opção o parto normal e como eu não me opus a isso nunca, mais do que isso, tive a sorte de poder parir mesmo sem estar a par de todo o sistema cesarista brasileiro.

Fazer uma cesária não estava nos meus planos naquela época por uma simples razão. Todas as mulheres da minha família pariram lindamente e nunca me contaram estórias aterrorizantes de parto normal. Muito pelo contrário, o único parto cesária, era contato com um tom de pesar, infelizmente ela teve que fazer uma cesária. E neste tom, o normal para mim era parto normal e ponto. E, para acrescentar euzinha aqui tenho pavor a hospitais, médicos, cirurgias e afins. Nunca fui de tomar remédio e só piso em hospital quando realmente preciso, do tipo para engessar um braço ou fazer uma cirurgia de apêndice. Fora isso tô correndo de hospital e cirurgia. Tenho um desvio de septo que convivo muito bem  só para fugir de uma cirurgia que querem me fazer desde muito tempo.

Mas, apesar de normal, meu primeiro parto foi hospitalar com todas as intervenções médicas necessárias e desnecessárias como  manda o figurino. Epidural, episiotomia, bebê indo primeiro ser limpo ao invés de vir direto para o meu colo. Como disse, não tinha informação alguma sobre todas estas coisas e não fui questionada se queria ou não uma episiotomia de rotina. Meu médico simplesmente fez. Mas, como toda esta minha ignorância não terminou numa cesária, então, não me culpo. Mas realmente fico chocada hoje em dia, quando olho para trás e vejo como não fui nem um pouco atuante no meu parto. Eu estava lá como um noivo no casamento, sem nem saber direito o que a noiva escolheu para a sobremesa. No máximo escolhi o meu terno e a lua de mel, rs.

E pelo que pude aprender com o tempo, que isso é a regra no Brasil. As gestantes malemal buscam informações pertinentes, não contestam os médicos e são vítimas de um sistema único no mundo, principalmente no sistema privado, onde o normal é passar por uma cirurgia para extrair o bebê e ficar nas mãos do médico numa confiança cega e numa relação quase que de endeusamento do médico. Se o médico diz que o bebê está assim ou assado e é preciso agendar uma cesária, a mãe ouve, afinal toda a sociedade a fez acreditar que o médico sabe tudo e ponto final e ela não pode colocar a vida do seu bebê em risco, não é mesmo?

Mas, infelizmente o sistema médico brasileiro, principalmente nas redes privadas está todo errado. O Brasil é campeão mundial de cesárias e contradiz quase todas as indicações da OMS a respeito. Esta mesma que diz que toda gestante deve ter um plano de parto e que as cesárias não podem passar de 14%. No sistema privado são mais de 90% dos nascimentos e as gestantes desconhecem o que plano de parto.

Ao engravidar por aqui, fui apresentada a um sistema completamente diferente. E ao mesmo tempo tive duas amigas que acordaram e perceberam o quão errado estava tudo isso no Brasil. Comecei a ouvir sobre violência obstétrica, parto natural e etc. Tive conhecimento também do documentário “O Renascimento do Parto” e saí em busca de muita informação. Quanto mais eu lia, mais chocada ficava com o sistema brasileiro. E, quanto mais eu lia sobre gravidez por aqui nos EUA, mais eu tinha certeza que estava tudo errado no Brasil.

Como eu disse, quando me vi grávida aqui tive que aprender um monte de coisa e me deparei primeiro com o plano de parto e segundo com a pergunta: “Onde você fará o seu parto?” “Você optará por um médico ou uma parteira?” “Pára tudo! Como assim, não é obvio?” Pensei eu. “Lógico que será com um médico e lógico que será num hospital! Que tipo de louca acha que eu sou? Acha que vou parir em casa e ainda por cima sem médico? Tá louca?” Essa foi minha reação no começo. Nem entendia como alguém poderia me fazer este tipo de pergunta, não entendia como haviam estas opções. Até que comecei de fato a pesquisar o assunto e a procurar médicos por aqui. Achei estranho também o costume que os americanos têm de entrevistar o médico. Mas todas os blogs, revistas e livros que eu lia me diziam que EU teria que entrevistar um médico, aquele ser divino e inquestionável, rs. Achei estranho mas fui lá. Anotei todas as perguntas das listas destes sites, blogs e etc.

Entrevistei um, dois,três. Não gostei de nenhum. A cada entrevista aprendia mais. E a cada pesquisa o personagem parteira estava cada vez mais presente. Até que entendi que a parteira daqui dos EUA ou da Europa, não é a mesma parteira das antigas do Brasil. Aqui elas são estudadas, fizeram faculdade, tem certificação e fazem parto no hospital. Ao ver isso pensei: “Pera lá, um ser assim com tantos poderes, num país onde os processos correm solto por qualquer aspirina errada, não pode ser uma opção tão louca assim né?”

Eis que o mundo do parto humanizado se abriu para mim. Estou fazendo todo o pré natal num Birth Center, com uma parteira, e meu parto também será lá e não num hospital. Será um parto natural, sem anestesia nenhuma, respeitando todas as minhas vontades (que agora eu tenho de monte) na piscina ou de cócoras, porque também descobri que parir deitada é um invenção recente que somente atrapalha todo o processo do parto. Antonio vai para o meu colo assim que sair, ainda com o cordão pulsando e não passará por nenhuma intervenção desnecessária. Vou parir num quarto com cara de casa, sem o ambiente frio hospitalar e poderei ficar livre para andar, ser massageada, entrar na banheira, no chuveiro, comer ou fazer seja lá o que for mais confortável para mim. Isso não significa que estarei correndo nenhum risco e que o bebê não será monitorado, muito pelo contrário. O controle pré-natal é super rigoroso e qualquer problema e necessidade de um hospital é visto com antecedência e se você não estiver 100% saudável, não pode parir num birth center, tem que ser hospital, mas ainda sim um parto humanizado.

E, não estou nenhum pouco com medo de sentir dor como sempre me perguntam. Vai doer? Claro que vai. Mas é uma dor com propósito que vai me trazer o meu menino que tanto quis. Vai ser uma dor muito desejada e um processo totalmente natural e suportável. Afinal, a humanidade está a milhares de anos fazendo desta mesma forma. É natural e somos mamíferos totalmente capazes disso. E se tem alguma coisa em que confio nesta vida é na natureza. Logo, a dor é a última coisa que penso nisso tudo.

Para chegar a todas estas decisões e mais algumas ainda que preciso rever no meu plano de parto, foram muitos livros lidos, muita informação gringa, européia e americana e também brasileira. Não quero aqui fazer apologia ao parto natural. Tanto é que o que vai ser de fato falei super pouco. Mas o que de fato gostaria de deixar aqui registrado é que antes de decidir qualquer coisa sobre o parto, se será normal, natural, em casa ou no hospital, a gestante precisa se informar. E se informar bastante. Não só sobre as coisas básicas, precisa ir a fundo e ver o que acontece pelo mundo, para poder tomar uma decisão embasada em informação e não em medos, crenças populares e em médicos quase ditadores.

Quem quiser saber mais, tem algumas páginas no Facebook que fornecem bastante informação e são super bacanas, e eu vou linkar abaixo. E principalmente assista o filme O Renascimento do Parto.

https://www.facebook.com/humanizesse?fref=ts

https://www.facebook.com/orenascimentodoparto?fref=pb&hc_location=profile_browser

https://www.facebook.com/naomeobriguemaumacesarea

https://www.facebook.com/maternidadeativa

https://www.facebook.com/paizinhovirgula

E, deixo vocês com algumas imagens lindas de partos naturais, com bebês nascendo e indo direto para o colo de suas mães, nesse momento mais que esperado. A cara delas já diz tudo e não vejo a hora de passar por isso tudo.

 

Fale Conosco

Entre em contato agora mesmo para contratar a nossa ajuda ou tirar suas dúvidas. Vamos adorar falar com você.
Entre em Contato